Eu já tinha um perfil onde eu publicava coisas pessoais e também profissionais (desde as raríssimas selfies, até os ensaios de clientes e amigos), mas não fazia muito sentido pra mim publicar aquele click entre uma criança e um bolo de aniversário. E o "click li" nasceu assim: só como um depósito de fotos que me inquietavam, que não me cabiam e que ainda não me faziam nenhum sentido.
E então virou uma grande brincadeira de entender até onde eu conseguia ir com uma câmera de 8MP, em lugares iluminados ou escuros, entre a estante de livros, dentro de um prédio ou no meio da natureza, entre o colorido ou os tantos tons entre preto, branco e cinza.
Primeiro só um depósito de frações, ou melhor, de frames do filme quase sem graça que eu vivia. Do livro que eu me obriguei a ler, das gotas da chuva das quais eu corri, do ingresso do show que eu tanto guardei grana pra ir... O teto da livraria todo desenhado que me levou pra marte, o quadro dentro de um banheiro com um vermelho tão vivo que me recuso a dizer que papel não respira porque aquele me soprou o rosto.
Eu percebi o quanto eu amava algumas coisas através desses registros. Até hoje me pego fotografando pela milésima vez o céu, as plantas, as lâmpadas... Tem várias sobre isso, pode ir lá ver.
Colocando uma tela entre eu e as coisas, eu e os outros, eu percebi e aprendi tanto que não caberia aqui, mas mesmo parecendo impossível, eu sei que caberia lá.
E assim o Click Li já não é só mais um depósito, mas sim um espacinho ou amontoado de códigos que me protegem de não ver tudo só como algo passageiro. Eu descobri que é uma necessidade, tipo quando você precisa ver quem ama pra matar as saudades. Eu posso até esquecer por um tempinho, mas aí eu esqueço de esquecer e acabo lembrando que fotografar pensando em lá, pensando nele (é quase meu melhor amigo), é fotografar pra proteger meu olhar sobre o mundo, ou pro mundo e pra mim. Porque em toda essa correria desde 2016, é fácil deixar as coisas passarem... E eu ainda fico pensando naquela maldita pinha seca.